terça-feira, 10 de julho de 2012

Benzeduras

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Fui criado em liberdade
Como vento em campo aberto
Sem nenhum doutor por perto
Nem remédios, nem receitas
Ou qualquer prova a ser feita
Numa eventual doença
Quase sempre havendo cura
Só com chá ou benzedura
Conforme mandava a crença

As infusões eram feitas
Com as ervas da natureza
Milagrosas, com certeza
Nos males de pouco porte
Quando o sujeito, com sorte
Sarava em menos de mês
Só com a fé na eficácia
Fazendo com que a farmácia
Perdesse mais um freguês

Recordo de minha avó
Benzendo pra mau olhado
Catapora, nervo quebrado
E outras anomalias
E, as palavras que proferia
Com firmeza e devoção:
"Te corto cobreiro brabo
Separo cabeça e rabo"(*)
Na forma da tradição

À vovó Maria Antônia
Minha singela homenagem
Na transcrição da mensagem
Guardada como lembrança
Respeitando essa cultura
Que mantém as benzeduras
Com seu próprio linguajar:
“Cobreiro eu te benzo e tu hás de sarar
Com este galhinho da Virgem Maria
Pedindo que ela não deixe cruzar
Cobreiro de aranha, de sapo te benzo
E a Virgem Maria te há de curar”

A.L.Oliveira/jun/2011

(*)=Cobreiro ou cobrelo = erupção cutânea causada pelo contato de cobra,
aranha ou sapo nas vestes do paciente, segundo antiga crença popular.

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Marcas Do Tempo

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As coisas que marcam o tempo,
cada qual tem seu papel:
o relógio, por exemplo,
implacável e cruel,
faz seu serviço de graça.

Passo a passo, lentamente,
encolhe a vida da gente,
a cada hora que passa.

O espelho, fiel, sincero,
com ele ninguém se ilude,
agrada na juventude,
mostrando a força, a beleza,
mas, agride, na velhice,
refletindo a rabugice,
que é própria da natureza.

A idade o torna embaçado,
parece um tanto zangado,
ralha, implica, renitente.

Quando lhe encaro de frente,
me ocorre certa amargura,
pois, travo enorme peleia,
com um velho de cara feia,
que mora em sua moldura.

A.L.Oliveira/dez/2005
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